A mãe preta
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
"Você não é a mãe preta do leite" - relato de amamentação
domingo, 16 de novembro de 2014
Bombonzinho
Mini Bentia está internada. Estamos em um hospital particular, em uma região valorizada da cidade. Não é uma região rica, mas é uma região de uma classe média bem de vida.
Dito isso, é possível imaginar a quantidade de negros que circulam por estes corredores. Não digo como faxineiros, copeiros e funcionários responsáveis pela manutenção. Quero que imaginem a quantidade de negros como pacientes e médicos. Se vocês imaginaram quase nenhum, acertaram em cheio.
Não percebi nenhuma diferença de tratamento, as médicas, enfermeiras, técnicas de enfermagem, fisioterapeutas e etc foram muito atenciosos conosco e carinhosos com Mini Bentia. Mas algo me chamou atenção de imediato.
O pessoal de saúde tem o péssimo hábito de chamar as mães de “mãezinha”. Existe toda uma discussão nos fórum de maternidade falando o quanto esse termo é pejorativo e desrespeitoso. Então, a partir desta internação de Mini Bentia percebi que todas as crianças negras devem ser “bombonzinho”. Mini Bentia já tinha sido chamada de “bombonzinho”em outra ocasião por alguém da área de saúde durante um atendimento, mas na ocasião eu achei que fosse um modo de se expressar daquela profissional e não uma coisa institucionalizada.
No meu atual nível de problematização da coisa, não vejo o apelido “bombonzinho” como algo ruim a priori que me faça intervir exigindo que não chame a minha filha desse modo. Mas vejo claramente que há um estereótipo aí. Não é nada, não é nada, mas já é uma maneira de marcar e diferenciar aquela criança. E de evitar os termos negra e preta.
Com isso tudo, gostaria saber se existe um apelido universal para todas as crianças brancas que os profissnais de saúde usam ao cuidar delas. E se nos hospitais públicos, nos quais grande parte dos usuários são crianças negras, há essa tipo de atitude de chamar as crianças de bombonzinho.
Por quais apelidos já chamaram seus filhos durante atendimento de saúde? E aí, alguma mãe preta já reparou se seus filhos são sempre chamados de “bombonzinho” durante os atendimentos de saúde?
Que comecem os trabalhos!!!
Que comecem os trabalhos!!!
Depois de muito pensar, relutar, ponderar e adiar finalmente decidi iniciar um blog. Cheguei àquele ponto na vida no qual precisamos parar um pouco, refletir sobre nossos caminhos e escolhas, avaliar os rumos que a nossa vida toma é realinhar o prumo se preciso. E nesse processo de auto-aceitação e auto-conhecimento eu vi no blog uma maneira de externar as palavras que vivem presas dentro de mim.
Optei por falar sobre maternidade porque é algo que me move. Porque, assim como muitas mulheres por aí, eu nasci pra ser mãe. E é tão complicado constatar isso sabendo que o ser humano nasce pra ser múltiplo, pra ser tudo que ele quiser ser. Não me entendam mal. Mulheres não nascem pra ser mãe. Tornam-se mães ao longo da vida, por escolha ou contingência, e podem inclusive optarem por viver essa maternidade ou não ao longo do processo. Eu sei disso. Mas quando eu olho pra minha vida, minha história, meu passado, minha personalidade, vejo que tudo que mais me dá prazer e me motiva tem a ver com a maternidade.
Hoje eu sou mãe de duas meninas. Mas já fui mãe de cachorros, mãe de filhos imaginários, mãe de bonecas, mãe de anjos, mãe de afilhados… E sejamos sinceros, quem se sente vocacionado à maternidade não deixa de ser mãe nunca! Hoje eu sou mãe desse povo todo citado (sempre no plural, família grande é tudo de bom!) e ainda tem espaço pra mais filhos, é só chegar!
Isha Bentia é minha filha mais velha, hoje tem 2 anos e 2 meses. Foi uma gravidez em que eu vivi para esperá-la. Gravidez de risco, repouso absoluto, muito tempo deitada, muito medo de perdê-la. Mas a menina chegou bem, com saúde, dissipando os fantasmas das perdas anteriores e trazendo alegria e luz pra toda a família. Realizei o sonho de ser oficialmente mãe (já era mãe de duas estrelinhas que depois conto melhor nos meus relatos de aborto).
Com a chegada de Mini Bentia, minha caçula de 8 meses, bem em meio ao processo de chagada aos trinta, e diante da grande possibilidade desta ser a última gravidez, a minha ficha caiu: “pronto, sou mãe e agora?” Vi que quero criar minhas filhas segundo meus próprios princípios e não só reproduzir automaticamente o que se faz por aí ou o que foi feito pelos nossos pais.
Mas para isso, é preciso refletir sobre quais são esses princípios, refletir sobre o que eu acredito, refletir sobre como suas relações se dão, sobre os meus desejos e os desejos delas. Afinal, as meninas não são uma tabula rasa esperando que eu deposite todas minhas crenças e as construa à minha maneira. São seres humanos autônomos, sujeitos de direitos e de desejos, que devem ser respeitadas.
Espero que esse espaço seja pra isso, para que eu possa pensar e construir uma maneira de maternar. Que eu possa trocar com vocês expectativas e experiências, aprender e ensinar e com isso vamos juntos trilhando nossos caminhos.
Sejam bem-vindos!!
Que comecem os trabalhos!!!
